“Nunca pretendi agradar a essa gentalha; daquilo que eu sei o povo não gosta, daquilo que o povo gosta não quero eu saber.” Epícuro.
E é bem no meio da ralé que a cultura de um povo se mostra sem subterfúgios, sem a maquiagem do glamour, onde a dureza do dia-a-dia só amolece no primeiro gole. Onde acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série, da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. Cada cultura tem suas particularidades, mas a maioria tem “pobremas” comuns... Azarados, coitados, mas se reproduzem com uma facilidade espantosa... Quanto mais pobres, mais férteis e reprodutores, talvez por serem mais atléticos e sarados – a porção de torresmos é bem menor para o povão-pé-no-chão, a corrida para alcançar o ônibus, pra matar a baratas o alongamento para passar debaixo da catraca, subir na laje pra mexer na antena da tv, – conseqüentemente, mais sensuais! Tudo começa a partir do puxadinho: Mutirão para levantar a laje, onde a sogra, o primo alcoólatra, o cunhado pegador “pacarai” que tem o filho gay e uma filha teúda e manteúda, prima velha do cabelo acaju-menopausa, o Waldisnei, tossindo alto e catando a mortadela do chão, a Creusa que tem pobrema de neuvos por causa da galinha da vizinha – que não é a ave, se juntam para ajudar. Histórias da ralé passa pelo churrasco do casório, “love is in the ar” só felicidade... mozinho serve a sardinha com beijinho ao mozão, fofura serve ponche ao fofinho, no o copo preferido de alumínio com o escudo do curintia... Em situações como essa, tudo e todos se atraem... chifres e musicas sertaneja... tornozelo e pedal de bicicleta... bunda da moça que dança funk e o olhar do cara sentado no sofá com perna de tijolos... palito de fósforo, apontado com a faca suja de feijão e a boca do Ditão caminhoneiro... toda partícula solitária que voa sempre encontra seu olho... A gentalha também tem a festa-arte do batismo, e, são muitas, como os nomes que “unem” dois nomes ( Criswelington), à adaptação de nomes estrangeiros (Wóxiton), ou nome da musica preferida dos pombinhos. Ah! Sim, tem o batismo tradicional, a conversão do “irmão” que abandonou o mundo, aceitou Jesus. Não nesta mesma ordem. No mundo ralé, muita coisa parece bizarra, parece não fazer o menor sentido para quem vive em uma classe elevada, como a elite, a nobreza. Se bem que em nosso país, a elite é tão pequena que muitos até duvidam de sua existência. Entretanto, há controvérsias sobre o que é gentalha, bagaceira, povão, ralé... O Roberto Carlos, por exemplo, dorme de meia (uma só), a Ivete Sangalo levanta o braço pra cheirar as axilas, dizem que tem CC, Rita Lee, ouve e gosta de pagode. - Mas então, Sr. Presidente da republica, as pessoas deste lugar são boas? – A elite é boa... - E o povão? – O povão também. – São cidadãos satisfeitos e felizes? – A elite está satisfeita e feliz. – Então e o povo? – O povo também... – E são pessoas fáceis para se conviver? – A elite é... –E o povão? – O povão também... – Mas porque você sempre diz que a elite deste país é feliz, satisfeita e fácil de conviver se o povão também é? - É que a elite representa os brasileiros. – E o povo? – O povo também. Então ta! Plebeus nobres que somos, vamos encarando nosso destino e quebrando os termômetros a cada vez que detectamos uma febre. Alguém que não me lembro quem, disse: Todo homem é igual perante a lei.A lei é que muda, conforme o homem. Isso faz todo o sentido!