
Não pisque o olho “Mermão”, meu irmão, porque os filhos crescem, e crescem tão rápido que é difícil de aceitar. Crescem em um piscar dos olhos.
Logo logo, esse seu pacotinho sagrado chamado Clarinha, estará contando seus passos... contando suas palavras... contando seus brinquedos... contando seus amigos... contando suas escolas... então contará seus amores... seus temores... Então já estará adulta. Pronta pra vida! E você, não estará pronto pra vê-la pronta. Mesmo assim não existirá felicidade maior.
Minha experiência mostrou que os filhos morrem muitas vezes, e, cada vez que eles morrem, deixam outros em seus lugares.
Quando morreram meus bebês, nasceram as crianças mais lindas fofinhas e gostosinhas do mundo.Que não mais precisavam do peito ou mamadeiras, ensinei-lhes então, a sentar,a falar a andar... Tomavam todo o meu tempo, mas, me fizeram esquecer rapidinho, os bebês que já não existiam mais.
O mesmo aconteceu quando a crianças se foram e, me deixaram, moleques, arteiros, banguelas, encardidos, com joelhos e cotovelos feridos, com perguntas difíceis de responder, e com enorme habilidade em desaparecer dos meus olhos... Alguém escreveu certa vez, que nessa idade, somente os pais podem amar seres tão esquisitos...
Nessa fase são aprendizes de capetas durante o dia, mas, anjos dos mais graduados a noite, enquanto dormem. São os que mais deixam saudades quando partem. Pré-adolescentes, tão rápidos quanto desajeitados, são os que vivem menos. Indefinidos e disformes, não só em relação ao físico, também no emocional, comparados aos outros. Já os adolescentes, ganham formas novas, contornos inexistentes, humores oscilantes e barulhentos, as vezes ultrapassando os decibéis tolerados aos ouvidos humanos. Com hormônios, feito tsunamis, jorrando em seus corpos e tudo fica difícil pra eles. Pra gente também! Pensam que sabem tudo, porque se aproximam com os adultos. Entretanto, enquanto descordam de tudo, torcem o nariz pra todos... nas entrelinhas dos “não me toques”, seus olhos pedem socorro, mostram carências e clamam por paciência!
Mermão, é nessa hora, que morre o pai que existia até então, e nasce o grande e eterno amigo, porque é nesta ocasião que você começa a vislumbrar a “tendência do adulto” que há dentro deles... E então, um belo dia você acorda, olha pra cima (já são grandes), e vê uma pessoa pronta, um adulto completo, com idéias próprias, projetos de vida, de carreira e uma rota de vôo livre. De repente, não há mais dúvidas, essa criatura, seu bebê, é um cidadão, um individuo e será sempre o mesmo, não morrerá mais... Será o mesmo, até o final da sua vida, (a vida do pai, obviamente).
As vezes, mermão, a saudade dos bebês, das crianças, dos moleques e adolescentes são tão fortes, que não dá pra segurar as lágrimas. Esse é o grande paradoxo da vida! Queremos tanto que cresçam que esquecemos que pra isso temos que abrir mão de nossas, pequenas criaturinhas transbordantes da mais pura felicidade. São mutantes os filhos, Mermão, se transformam, transmutam, nascem e renascem com uma competência imutável.
Aos poucos mermão, você vai aprender , que um filho morre muitas vezes diante de seu pai, um filho nasce muitas vezes diante de seu pai. Mas que o pai nunca, nunca morre para seu filho... Nem mesmo depois de enterrado...