quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Crônica publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888.


Escrita por nada mais, nada menos que Machado de Assis.

Bons dias!

Por isso digo, e juro se necessário fôr, que tôda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.

Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.

No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.

Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.

No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:

- Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que...
- Oh! meu senhô! fico.
- ...Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho dêste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...
- Artura não qué dizê nada, não, senhô...
- Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.
- Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.

Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Êle continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.

Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí pra cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe bêsta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas tôdas que êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.

O meu plano está feito; quero ser deputado,e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a tôda a gente que dêle teve notícia; que êsse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu.

Boas noites.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O amor e o tempo


É nisso que dá, passar tanto tempo longe daqui, posto um texto duas vezes. Preciso parar de tomar aquele chá de “cogumelos raivosos”... Passo o dia inteiro dizendo: “Coisa com coisa, coisa com coisa, coisa com coisa” e minha família diz que não digo coisa com coisa!

Talvez isso explique alguma coisa, talvez seja por causa de minha já (grave)idade, já que não consigo lembrar de muita coisa depois que ... não lembro agora, mas não tem importância... Nossa como o tempo passa né? Parece até aquele filme, como era o nome? Com aquele ator, lindo de viver, que morreu de, como era o nome daquela doença... Bom, enfim, eu só sei que foi uma perda muito triste pra mim. Foi muito de repente, tão novo... morreu antes de terminar de escrever o meu livro... Nossa como o tempo passa né? Aqui está o texto que deveria estar aí em baixo, nos post anterior...

O amor e o tempo.

Muito se fala sobre o tempo e o amor. Muitos acreditam que o tempo é inimigo do amor, que as relações se desgastam com o passar dos dias, meses e anos, entretanto, outros afirmam que o tempo reforça o amor, estreitando os laços a cada mudança da lua.

Só tempo cura as feridas, apaga as lembranças tristes, como humilhações, fracassos, crises financeiras, etc. Nada melhor que esse amigo, para desbotar os escândalos políticos, os micos - esses sãos os mais rebeldes – e isso é mais que conveniente. Mas não só os fantasmas sofrem o efeito desse companheiro. Do mesmo modo o extraordinário, o fantástico, o imortal, é consumido e embaçado pelo tempo. Esse cruel implacável vilão, traz consigo o hábito, que tem o poder de automatizar e banalizar o deslumbrante, o maravilho, o romântico. Dizem que a convivência é a fada maldita que mata o romantismo, que transforma príncipes em sapos e princesas em bruxas. Antes:não para! Depois: não começa! Antes: Nem tanto! Depois: nem tão pouco! Há quem diga que a falta de novidade é o túmulo do amor romântico. Seria a ilusão do romance cor de rosa ou o mito que morre? O tempo também traz consigo mudanças que acontecem em nós, alterando o contexto: Antes: A lua tem vergonha da sua beleza. Depois: Não ta vendo que vai chover sua anta! Ele não ama mais a pessoa que amou há dez anos atrás. Ela mudou ou ele que mudou? Essa entidade alteradora, muda o amor ou as pessoas envolvidas? E se tempo e o habito alteram o amor romântico, o que sobra então para os envolvidos? O que sobra depois do encantamento, entusiasmo e poesia poderia ser chamado de amor?

Muitas vezes, sobra o amor real, prático e convencional, cúmplice, dedicado, terno e confortável. Esses amores também sofrem as alterações desse vilão, podendo até morrer, entretanto, podem renascer, infinitas vezes. Outras vezes, depois da ação desse monstro, se não morrer, o amor se transforma em indiferença, constrangimento, ressentimento e ódio, que também não deixam de ser formas de amor... Antes: Amor, deixe seu coração comigo! Depois: Deixe seu relógio, seu carro e sua casa! O fato é que o tempo influencia todas as formas de amor, no presente, passado e futuro, mata e ressuscita, sublima e perverte. Mas mesmo sob a ação duvidosa dessa benção ou maldição, o amor é absolutamente indispensável. É a parte central da natureza humana, nos une ao mundo, traz algum sentido a vida. Não podemos viver sem ele. E no final das contas, se nobre, maldito ou piegas achamos que a vida é bela e o amor é lindo!

Come eu Verissimo!


Noticia velha de final de junho: A pensão alimentícia de 12 mil reais, paga pelo senador Renan Calheiros à jornalista Mônica Veloso, mãe da sua filha de três anos, por meio de um lobista da empreiteira Mendes Júnior, leva alguns corredores de rua em Brasília a fazerem uma faixa de protesto e indignação bem-humorada, com os dizeres “Come eu Renan” (assim, sem vírgula). Vai daí que a administradora de empresas Graça Melo, 55 anos, viu a faixa e decidiu tirar uma foto. Foi um sucesso e a imagem começou a circular pela Internet.

Pensamentos da época: O que não se faz por uma pensão de 12 mil reais? Dizem que depois das Marias-Gasolina e Marias-Chuteira, estamos na era das Marias-Congresso! As Marias-sem-vergonha? Ficaram indignadas como muitos brasileiros, embora a maioria delas, com inveja, porque também gostariam de uma pensão do Renan.

Fragmentos de pensamentos remanescentes do fato: Imagem de uma moça, vestida com roupas esportivas, parada na calçada, balançando uma faixa e torcendo e/ou motivando seu ídolo. Coisas de mentecapta? Isso acontece muito e com muitas pessoas... A mente capta informações novas, mistura com as velhas e tira suas conclusões... Só que as vezes, por motivos dogmáticos, na hora de misturar informações que capta, a mente distorce e conclui algo diferente depois de algum tempo. Sua mente captou?

Finalmente, o inicio do texto: Partindo do que pressupôs minha mente, que a tal da moça com uma faixa na mão seja uma fã tão fiel, que pede para ser comida, penso: E se eu, no lugar dela, sabe-se lá por que, precisasse escrever essa frase para meus ídolos? Só para esclarecer, sou totalmente anti-tietagem. Por alguma força desconhecida, normalmente corro de famosos! Mesmo os meus queridos famosos. Mas, para que esse benedetto texto tenha consistência, preciso supor que realmente faria uma faixa “Come eu ...”. Claro que tenho ídolos, embora a maioria deles sejam escritores e estejam mortos... Eu os tenho e eles, a mim! Deixemos, então, os mortos descansando em paz, já que o assunto é pra quem pode comer. Ídolos que poderiam estar na minha pseudo faixa “Come eu”: Veríssimo seria o ideal, porque só tem Sexo na Cabeça, mas o cara é o Gigolô das Palavras, vive em Orgias com a Mulher do Silva, A velhinha de Taubaté nos Banquetes com os Deuses... Ele não teria tanto “estômago” pra comer mais uma... Wood Alen, cineasta, escritor e “ator-mentado”, de idéias filosóficas sobre neuroses comportamentais, está fora de cogitação. Desconfio que ele acredita que a vida se expressa através de mortes, por vezes violentas. E se ele tiver problemas com gordura? È melhor não arriscar... Caetano Velô! Vixe mainha! È certo que não daria certo, meu rei! Mesmo afirmando que “Pra sexo, basta que se dê", é preciso saber o que e... pra quem. Não ficaria bem na faixa! Stephen Hawking, físico britânico, conhecido por seus estudos do universo... Com toda aquela inteligência na cabeça, quem duvida que o cara tem disfunção intestinal? Chico Buarque, apesar de ser o número exato de toda mulher do planeta, também não dá, porque, segundo Nelson Rodrigues, diante dele, todo homem já é um corno em potencial. Devo confessar que só existe um que iria pra minha faixa... Talvez pelo humor subversivo, do contra e politicamente incorreto... Homer Simpson é o cara da faixa... “Homer Simpson come eu!”. Concordo! É melhor mudar de assunto ou assumir a verdade, que meus ídolos não se encaixam em nenhuma faixa “Come eu”... Ou sou eu que não me encaixo na digestão deles?

Sobre a pensão alimentícia que receberia de meus ídolos? É um fato irrefutável: Sem faixa, sem pensão! De qualquer modo, os ídolos são meus e só eu os entendo!