
"Tem alvorada, tem passarada alvorecer, sinfonia de pardais anunciando o anoitecer". Salve Herivelto Martins. Tão poético isso! Todos os dias eu tenho o privilégio, a regalia de alvorecer e anoitecer rodeada de pardais... Pardal é uma ave que não tem jeito, uma peste, tem em todos os cantos da cidade. É pássaro urbano, gosta mesmo é de perturbar os desavisados habitantes da cidade. Completamente inúteis, parasitas nãoconstroem seus próprios ninhos, roubam os das outras aves. Simplesmente, quando o ninho já estava pronto arrancam tudo e levam embora. Morrem se ficarem na gaiola, por isso nunca ninguém
viu um pardal preso. Ainda por cima faz cocô na cabeça dos outros! Safados e vigaristas. Esta história lhe parece familiar? Os políticos e os pombos do amor igualmente me inspiram. Meu café da manhã é sublime, parece que estou em uma fazenda... No galinheiro da fazenda! Penas, penugens, galhinhos secos, provenientes de ninhos... Os cocôs dos pardais são tão grandes que parecem de pombos, e os dos pombos, tão
grandes que parecem de patos – nem quero imaginar se houvesse patos na região. Das duas merdas juntas, o cheiro que se sente, só o do inferno é equivalente. Rimei... Tudo isso graças à hospedagem 5 estrelas, com gastronomia requintada, que, mesmo sem querer, ofereço para os pombinhos apaixonados e para o descanso das sinfônicas aves.Porque a passarada descarada que gorjeia aqui, não gorjeia como na floresta, onde raramente é vista, mas, sim, na parte mais alta das casas e dos prédios – espécie de Brasília para eles - como que para dominar, controlar tudo. Fonte de piolhos, pulgões e parasitas que acabam com as plantas. Como os políticos, não existe exterminador de pardais ou de pombos. Eles, como sabem disso, fazem a terapia do riso através dos grandes estimuladores de gargalhadas, que somos nós. No caso eu, a esperta criatura que já tentou quase tudo... Na vã tentativa de me ver livre dos malditos, acabei descobrindo informações interessantes sobre esses seres: repelentes daqueles viscosos causam-lhes estado emocional de excitação plena, deixando-os eufóricos. Alpistes misturados com um fertilizante, que, no rótulo, dizia fazer mal às aves, são verdadeiros anabolizantes, os deixam, bombados, esculpidos, tipo "bad boys". Veneno de baratas com ração para aves provoca paralisia facial e calos nas suas gargantas... De tanto rir. Virei motivo de chacota deles quando comprei um estilingue e o maldito quebrou na primeira tacada, deixando meus dedos roxos por semanas. Tipo comédia pastelão... Doeu mais que depilar a virilha! Mas não desisti! Fiz minha própria arma atiradeira. Então detonei meu telhado com naftalina. Foi aí que descobri que naftalina os deixa possuídos pelo furor sagrado de Baco. Os machos possuídos de delírio profetizam fanaticamente. As fêmeas bacantes, com suas penas alvoroçadas, cometem toda sorte de luxúrias selvagens. E foi nesse clima de dança com as bolinhas de Baco, nessa briga do
bodoque, telhado e ave do mal, que tudo aconteceu... De repente, para meu espanto e bem diante da minha presença homicida, um indefeso pardalzinho caiu... O bichinho ainda teve tempo de olhar em meus olhos desalmados, antes de um último suspiro e faleceu. Como um
passarinho! Por pouco ele não me leva junto! Entrei numa espécie de transe pós-assassinato e, quando olhei em volta, tive a impressão de ver milhares de pássaros olhando para mim, acusando-me e lamentando a perda do amigo querido. Tinha um que parecia uma viúva desesperada! Ninguém nunca deveria passar por isto: é uma experiência horrorosa, ver sua
própria vitima morrendo em suas mãos. Voltei ao ponto zero, continuo descontente com os fazedores de titicas, só que agora com a consciência assassina. Se alguém puder me aconcelhar...Aceito sugestão.
Fátima Benelli.
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