terça-feira, 14 de agosto de 2007

O dia em que eu não consegui torcer meu pescoço!


Eu assei meus sapatos. Novos e lindos de morrer! Só não vou citar o preço para que isso não se transforme em um drama maior ainda. Foi atração à primeira vista. Tipo amor de Vinicius. Jurei dedicação eterna, diante de tão elevado tesão. Encantamento mágico, sedução pura, e não pude fazer nada para impedir. Ao primeiro toque, tive a certeza que viveríamos juntos, para sempre. Levei-o comigo. Agora ele era meu, só meu. Meus pés também eram dele, porem, não jurei fidelidade. Bem ao estilo Nelson Rodrigues. Inocente, eu não sabia o que o destino nos reservava. Algo estava errado, como não percebi antes? O pé direito estava um tiquinho assim, mais apertado que o esquerdo. Aí, já era tarde demais para trocá-lo por outro, pois não se troca uma paixão assim. Seria esse um caso de amor que sufoca, agride e machuca os envolvidos? Haveria eu de suportar a dor de um amor bandido? Eu, que já tinha uma larga experiência nesses amores arrebatadores, um QI avantajado e muito calo nos pés, teria que encontrar uma solução. Uma aquecida com o secador ou no microondas e, quentinho, meu xodó “salto poderosa”, se moldaria com perfeição. Nada como uma aquecida na relação para o amor se adaptar como luvas, ou no caso, como sapato mesmo. Considerando que o secador estava longe do meu alcance e “aquele que se arrasta aos meus pés” tinha detalhes em metal, resolvi aquecê-los no forno convencional, só por um ou dois minutos, óbvio! Ah! Nada como uma mulher inteligente para buscar soluções criativas. Foi então que aconteceu a tragédia! Bastou um toque no telefone e... Muito tempo depois... Assei meu amor. Torresmei (verbo novo; conseqüência do trauma) meus sapatos! Ma-ra-vi-lho-sos! Só me resta a canção do Chico em nova versão: “Se ao te conhecer, dei pra sonhar fiz tantos desvarios, rompi com o mundo, queimei meus “navios” ... Como se nos amamos feitos dois pagãos, teus “saltos” inda estão nas minhas mãos me explica com que cara eu vou sair. ” Juro que ainda tento não chorar quando lembro. Juro que sou normal, mas sofro em silencio e constrangida com o destino de um amor tão lindo.Como diz Cecília Meireles, “O tempo seca a beleza. Seca o amor, seca as palavras.O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas.” Não só tempo, mas, o forno também minha cara amiga !

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